Por ocasião do lançamento no Brasil de “O Caderno de Noah”, em 1997, assisti uma entrevista com Nicholas Sparks. Articulado, com um sorriso contagiante sempre estampado no rosto, entusiasmado, fazendo os comentários apropriados a um “bom menino” que cursou a University of Notre Dame, ele falava que o amor verdadeiro e só aparentemente impossível. Que tudo pode dar certo. Que existe uma pessoa para cada um de nós. Que existe esperança. Mesmo na doença. Mesmo na morte.
Durante a entrevista, foram exibidas algumas cenas da sua primeira noite de autógrafos nos Estados Unidos. Chamou minha atenção o fato de que, na longa fila que aguardava, todas as pessoas (todas, sem exceção), eram mulheres de meia idade. E todas elas tinham no rosto um sorriso de esperança. Foram aquelas pessoas que me levaram a comprar e ler o livro. Pessoas que, se não eram felizes, pelo menos achavam que poderiam vir a sê-lo.
Na época, como uma encarnação de seus próprios personagens, ele e a família moravam em uma belíssima casa com varanda e cerquinha branca, na beira de um rio, ao lado de um bosque com muitas flores. Exatamente como a casa de Noah Calhoun, personagem principal de “O Caderno de Noah”. Quase perfeito demais para ser verdade. Quase encenado. Quase passível de dúvidas. Mas acredite, ele é convincente, sua prosa não é piegas e os personagens, se bem que um tanto estereotipados, são verossímeis.
Não espere demonstrações de virtuosismo literário. Sparks não é esse tipo de autor, e não faz questão de sê-lo. Ao contrário, no estilo despretensioso com que escreve, conquista o leitor. E, mais importante, emociona. Todos os clichês estão lá: a cerca branca, a casa na beira do rio, uma moça bonita e rica, um homem de posição social inferior que toca violão sozinho na varanda, a paixão da infância, o passeio de canoa, a tempestade, a lareira, os problemas, a doença e, claro, a esperança. Mas ele não carrega nas tintas. É como uma tarde, na varanda da casa de Noah, durante o crepúsculo: suave.
O ano é 1946 e a história de Noah Calhoun se desenvolve no litoral da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Com 31 anos de idade, fazendeiro que retornou ao lar após a Segunda Guerra Mundial, aplica a herança que recebeu na restauração de uma casa antiga. Noah é perseguido pelas memórias da grande paixão de sua vida. Allie Nelson, com vinte e nove anos, está noiva mas conscientiza-se dos seus sentimentos por Noah e percebe que o amor não diminuiu com a passagem do tempo. Clichê, clichê, clichê…
Mas, como um quebra cabeças dentro de outro, a história de Noah e Allie é apenas o início da obra. Ao longo da narrativa, a história se transforma em algo diferente, guardando um suspense interessante. Esta trama, aparentemente simples, manteve “O Caderno de Noah” por mais de dois anos na lista dos mais vendidos do New York Times.
Com mais de 6 milhões de cópias vendidas só entre seus dois primeiros livros, “O Caderno de Noah” e “Uma Carta de Amor”, Nicholas Sparks se tornou um dos mais queridos contadores de histórias românticas da atualidade, pela sua fé na vida e crença no poder do verdadeiro amor. “Uma carta…” foi filmado em 1999 com Kevin Costner, Robin Wright e Paul Newman.
Publicou mais três romances que não foram lançados no Brasil: “A Walk to Remember” (1999), “The Rescue” (2000) e “A Bend in the Road” (2001). Tem ainda dois livros inéditos “soterrados em pilhas de cartas de rejeição das editoras”, brinca.
Nasceu em Omaha, Nebrasca, em 31 de dezembro de 1966. Viveu uma infância nômade acompanhando o pai. Conseguiu uma bolsa de estudos para atletas na University of Notre Dame mas nos primeiros meses contundiu-se. Estava profundamente angustiado e, ao visitar seus pais durante as férias daquele ano, enquanto colocava gelo em sua contusão e reclamava da vida, sua mãe, irritada com a atitude pessimista do filho, exclamou: “Porque não faz alguma coisa… sei lá…escreva um livro”. Sparks encarou aquilo como um desafio e, oito semanas mais tarde, era o orgulhoso criador de seu primeiro romance, “The Passing”, jamais publicado.
Em 1989, escreveu seu segundo romance, “The Royal Murders”, também inédito. Recusado pelas editoras e pela faculdade de direito, começou a empreender uma série de trabalhos temporários na busca de algo que cativasse sua atenção. Foi corretor de imóveis, garçom e operador de telemarketing. Atualmente, com livros publicados em diversos países e milhões de cópias vendidas, é um autor de sucesso. Assegura: “Bem melhor do que ser representante de produtos farmacêuticos”.
Independente da língua para a qual tenha sido traduzido, Sparks vende livros como pão quente. Independente do país em que tenha sido publicado, os críticos detestam sua obra. Mais um daqueles mistérios do mercado literário. Não é o que os acadêmicos gostam, representa o que os críticos desprezam, mas é o que os leitores e leitoras desejam. Às vezes, é exatamente o que eles precisam.
Onde Encontrar o livro:
- submarino
- cultura
- barnes and noble (original em inglês)
- amazon (original em inglês)
Outros livros do autor:
Esse livro ‘O Caderno de Noah’ virou o filme ‘Diário de Uma Paixão’. que é bem sentimental, mas não açucarado…é legal