Pais e mães, especialmente aqueles que são marinheiros de primeira viagem, deveriam ser instruídos a estimular a criançada com atividades lúdicas e, assim, exacerbar a criatividade dos filhos. Se isto é verdade com a piazada (como se fala lá em Curitiba), por que seria diferente conosco, os adultos? Brincar é um dos verbos da nossa infância que JAMAIS deveríamos aposentar.
Aqui no Parágrafo a gente deseja trocar idéias sobre como melhorar nossa produção textual. Mas que fique claro: escrever sem criatividade é olhar para a vida como se ela fosse inteira em preto e branco; é aniversário sem presente; réveillon sem beijo; pipoca sem manteiga. É estar na cozinha quando o pão sai do forno e não ser capaz de sentir seu perfume ou roubar uma fatia quentinha. É… tudo bem… já parei. Ficou claro?
Sabe de uma coisa? Só para ter certeza, vai lá só mais uma: a criatividade é como um conjunto de músculos que não pode ser exercitado apenas com um único movimento repetitivo. São precisos vários tipos diferentes de estímulos para dar força, flexibilidade e equilíbrio à produção criativa. Por isso é importante expor-se a novas experiências, testar seus limites, explorar possibilidades, estimular os sentidos e aguçar a percepção para que esta nova habilidade seja traduzida, adaptada e transportada de volta para o ato de escrever.
Você já deve ter ouvido mil vezes aquele papo de que a gente tem que continuar criança, tomar banho de chuva, andar descalço na grama e coisas assim. Quem falou isto para você, estava certo. Faça tudo isto sempre que possível. Mas quando decidir fazer, não se importe se alguém vai ver. Este é um dos momentos cruciais na vida de quem trabalha com a criatividade. É preciso ter coragem para fazer isto. Muita coragem. Quando fazemos uma coisa inesperada em público, a gente chama a atenção. Quando chamamos a atenção, as pessoas vão olhar para a gente não mais como “mais um” ali no metrô. A gente se destaca e instantaneamente é julgado. É então que entra em cena a pergunta que vale um milhão de dólares: e daí? Fiz uma coisa inesperada sim, e daí? Estou assobiando no ponto de ônibus, e daí? Estou brincando com massinha de modelar no meu horário de almoço, e daí?
As chances de contato com a natureza são sempre estimulantes, mas e aqueles que moram no 32º andar de uma torre residencial e que saem de casa de carro, enfrentam congestionamento, param na garagem do escritório e passam o dia trabalhando no 42º andar de uma torre comercial? Existem alternativas:
Tenha sempre por perto:
- Massinha de modelar – esta sim é brincadeira de macho. Conquiste aquela “coisa” amorfa, domine o espaço que a cerca, subjugue aquele monstro colorido. Sem contar que é uma forma fácil, limpa e rápida de estimular sua visão tri-dimensional. Ou até uma quarta dimensão: o tempo. Monte, desmonte, amasse, remodele… acabe com ela! Estou falando da massinha, claro.
- Materiais de desenho – guache, aquarela, giz de cera, lápis ou canetas coloridas e muito papel. Você não precisa produzir obras de arte. Cores e formas são os primeiros elementos a que uma criança é exposta. Volte à infância e refaça contato com um tempo onde você não se importava quando alguém via você desenhando. Se você for capaz unicamente de desenhar aqueles bonequinhos de palito de fósforo, como eu, vivencie a experiência dos seus personagens. Eles são magrinhos e parecem frágeis, eu sei, mas quem disse que eles não podem ser cavaleiros, astronautas, fadas ou dragões?
- Máquina fotográfica – uma das minhas brincadeiras preferidas ao lado de vídeo games. Se escultura e pintura não é a sua praia, quem sabe capturar imagens seja um meio mais fácil de exprimir sua visão do mundo. Aliás, o termo “capturar” não tem uma conotação de caça? Em última análise quando você sai para fotografar você está saindo para “caçar imagens”. Divirta-se com este conceito.
- Instrumento musical – Aprenda a tocar violão, flauta ou tambor. Faça percussão com as mãos no seu peito, use uma caixa de fósforos, faça um chocalho com latinhas de cerveja. Em último caso, tamborile as unhas em qualquer superfície. Desenvolva ritmo, harmonia e musicalidade.
- Quebra-cabeça – Sinta a satisfação de produzir, construir. Passo a passo monte algo maior, mais complexo e mais impressionante. Blocos Lego são um dos mais interessantes na minha opinião, pois não existem formas predeterminadas e a imaginação fica solta.
Depois de modelar, desenhar, fotografar, tocar ou “quebra-cabeçar” (na falta de um termo melhor) quais foram as idéias que surgiram? Faça assim: junte todas em um projeto. Fotografe, filme, coloque no Youtube e mande o link para a gente dividir com os outros leitores do Parágrafo!
Um dos personagens mais célebres da história da literatura, Sherlock Holmes, de Sir Arthur Conan Doyle, que tinha uma mente absolutamente analítica, escapava de tempos em tempos para o universo da música tocando seu violino. Isto o inspirava a encontrar novos nexos causais nos crimes que investigava. A arte imita a realidade ou será que é ao contrário? Acho que o que importa, é que funciona.
Sem maiores demoras
Para não precisar esperar a próxima visita à papelaria ou loja de instrumentos musicais comece já com alguns dos jogos online abaixo. Você vai se divertir, descontrair e estimular a criatividade. Só não perca a noção do tempo e do propósito! Preciso dizer qual é?
- Wolfram Tones – crie e baixe a sua composição musical sem nem precisar aprender um instrumento. (precisa do plugin QuickTime)
- Make-a-flake – recorte flocos de neve num papel dobrado.
- Line rider – O desafio é manter o personagem em movimento constante. Veja alguns vídeos dos resultados obtidos por outras pessoas.
- Kaleidoscope – Crie seu próprio caleidoscópio.
- Tangram – um quebra-cabeças chinês onde o desafio é recriar objetos a partir de formas geométricas pré-determinadas.
Site maravilhoso – eu encontrei por acaso – mas este foi o acaso mais bem aproveitado do mundo! Obrigada. Até mais