Hoje, no almoço, comi um Yakisoba que veio acompanhado de um biscoito da sorte. “Veja a adversidade como uma oportunidade disfarçada” foi o conselho que recebi. Filosofia de fim de semana? Conceitos de confeito? Retórica de realejo? Independente do rótulo, uma leitura superficial pode ensejar este tipo de comentário sobre a obra de Richard Bach.
Bach simplifica a forma de se encarar a vida, mas com isto não quer dizer que as coisas sejam fáceis. Duas frases de “Ilusões” que seus fãs mais repetem são: “Nunca lhe dão um desejo sem também lhe darem o poder de realizá-lo… você pode ter que trabalhar por ele, porém” e “A fim de viver livre e feliz você tem que sacrificar o tédio… nem sempre o sacrifício é fácil”.
Richard Bach nasceu em 1936 e é descendente do compositor J. S. Bach. Sempre esteve envolvido com aviação. Atuou como dublê em filmes, pilotou caças para a Força Aérea, escreveu livros técnicos e foi instrutor de vôo. Parte de sua obra tem como pano de fundo a aviação tratada de forma objetiva. Mas seu grande sucesso de público e crítica aconteceu quando começou a se referir ao ato de voar como uma metáfora de realização, felicidade e liberdade de expressão.
Vou resumir a filosofia de vida de Bach: menos é mais. E esta é sua técnica. Seus livros são diretos. Concisos. Em “Ilusões”, Bach tem um pequeno biplano onde leva passageiros em passeios de 10 minutos. Cobra 3 dólares. Vaga despreocupado de cidade em cidade até que encontra Donald Shimoda, que é um Messias (com eme maiúsculo) e que, cansado, havia desistido da “profissão”. Como todo Messias de verdade, é simples, faz milagres, é infinitamente bondoso e terá uma morte violenta.
Bach trabalha com o óbvio. Às vezes flerta de perto com o kitch, ao deixar claro que Shimoda tem um livrinho de máximas, encadernado em camurça, que se chama “O Manual do Messias – Lembrete para a Alma Avançada”, que teria sido usado em seu treinamento. Mas é justamente essa presença do prosaico que torna a obra de Bach especial. E isto porque a grandiosidade está na simplicidade. E todos nós, lá dentro, sabemos que isto é verdade.
Fazendo um pacto de simplicidade com seus leitores, tudo fica às claras. Tudo é possível. Até um Messias indeciso que tira um tempo para si mesmo e se transforma em um piloto. Se o leitor aceita este acordo, como o próprio Bach, a súbita presença daquele Ser se transforma rapidamente em algo natural. Ninguém precisa convencer ninguém de nada. Passada a apreensão inicial tudo é normal, mesmo curar paralíticos, pilotar um avião sem combustível, andar sobre as águas… estas coisas comuns de todo ser elevado. Não existe e não é necessária argumentação intelectual. Shimoda é Messias. Ponto.
E até entendo que se possa comparar as idéias do autor às dos biscoitos da sorte. Ao consultar o “Manual do Messias”, encontra-se frases definitivas. “Valorize suas limitações e, por certo, não se livrará delas”. “O pecado original é limitar o ser”. “Não existe um problema que não ofereça uma dádiva para você”. E, talvez, a mais honesta de todas: “Tudo neste livro pode estar errado”.
Suas obras principais são: Fernão Capelo Gaivota (1970), Dom de Voar (1974); Ilusões (1977); Longe é um Lugar que não existe (1979); A ponte para o Sempre (1984). E é interessante notar que, ao longo das anos, periodicamente, são lançados livros que modificam a vida de milhões de pessoas. Não importa se isto faz parte de um ciclo natural da humanidade ou de um cuidadoso plano do mercado editorial.
Obras dos mais diversos autores como “O Menino do Dedo Verde”, “O Pequeno Príncipe”, ”Fernão Capelo Gaivota”, “Ilusões”, “O Maior Vendedor do Mundo”, “A Profecia Celestina” e até os livros de Paulo Coelho em sua fase internacional, são obras esperadas, até inconscientemente, por um novo público que se forma com o passar do tempo. Pessoas que esperam às vezes, só aquele estímulo sussurrado: “Força… você vai conseguir”. Isto conduz à esperança, que leva à felicidade.
“Ilusões” é o tipo de livro que, sempre, você vai encontrar em livrarias. Depois de tantos anos pode não estar mais na prateleira dos mais vendidos, perto da porta de entrada, em destaque. Mas só o que muda é a localização das prateleiras. Talvez não esteja na mesma sala em que Camões, Cummings ou Shakespeare, mas estará sempre perto da Bíblia, do Alcorão, dos livros de Kardec e da Bhagavad Gita. Na verdade, é tudo uma questão de opinião. E, usando uma frase o que está escrita no próprio “Manual do Messias”, tudo neste artigo pode estar errado.
Onde Encontrar o livro:
- submarino
- cultura
- barnes and noble (original em inglês)
- amazon (original em inglês)
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